
Com seu grande sucesso após a
publicação de seu primeiro livro Quando a
Bela Domou a Fera, Eloisa James vem se tornando um nome
que chama a atenção com suas obras de época que agregam os elementos dos
clássicos contos de fada a suas histórias repletas e paixão. Mantendo seu
estilo clássico e encantador, Um Beijo à meia-noite - o segundo volume da série Contos de Fadas
publicado aqui no Brasil pela Editora Arqueiro – se mostra mais uma obra
que transborda talento em suas páginas, ainda que enfrente alguns problemas em
seu inicio. Com direito a sapatinho de cristal e príncipe encantado, essa é uma
obra que consegue entregar aquilo que promete em sua premissa de forma
envolvente e fluida através de páginas que chamam o leitor a se envolver na
magia do amor e nas reviravoltas da vida... Confiram:
Informações técnicas:
Obra: Um Beijo à Meia-Noite Autor(a): Eloisa James Páginas: 96 Ano de Lançamento: 2016 Editora:
Petit Avaliação: 4/5
estrelas Onde comprar: Amazon / Saraiva
“- Porque é melhor viver uma paixão, Kate, conhecer um homem e amá-lo, mesmo que ele nunca possa ser seu, do que nunca amar.”
Katherine, ou Kate como prefere ser chamada, está longe de ser uma dama como muitos esperam. Tendo que lidar com a morte cedo de mais da mãe para em seguida ser apresentada a uma madrasta extremamente mesquinha e malvada, ela se viu completamente sozinha e desamparada quando seu pai veio a falecer tempos depois deixando tudo para a nova esposa. Sem nem ter debutado, ela se viu perdendo com rapidez um grande número de empregados, dentre eles sua preceptora, e sendo obrigada a lidar com as partes burocráticas e de negócio da propriedade que um dia foi sua. Crescendo em meio à explorações constantes, Kate acabou por se tornar uma jovem forte e com conhecimentos que estavam longe de pertencer ao de uma dama; mas sem o dote adequado para poder conseguir um bom casamento e com Mariana constantemente ameaçando os que viviam por ali, não lhe restavam muitas escolhas a não ser acordar ao raiar do dia e fazer todas as tarefas necessárias para manter ali funcionando e impedindo que várias famílias acabassem por perder suas casas.
“– Ela achou que teria mais tempo. Sempre achamos que temos mais tempo. É uma substancia milagrosa que parece existir em grande quantidade, até que, de repente, acaba.”
Sempre excluída da família, e condenada ao sótão, ela não está acostumada a ser convidada para ficar na presença de outros, principalmente se tratando do noivo da sua meia-irmã Victoria - que mesmo filha de uma víbora, se mostrava extremamente difícil de não se gostar. No entanto, tudo fica claro quando sua madrasta explica para Kate que ela terá que viajar se passando por sua irmã que não está em condições de aparecer m público devido a uma mordida no lábio que se encontra com uma aparência terrível.
Para que Victoria possa se casar, Algeron necessita da aprovação do príncipe, que também é seu tio, para o casamento - sendo essa uma exigência de sua mãe e também se mostrando a única forma dele conseguir garantir a herança deixada pela pai. Sem escolhas, principalmente com sua irmã já comprometida em todos os sentidos da palavra, Kate aceita seguir com o plano mesmo tendo certeza que sua aparência jamais iria conseguir convencer a todos que se tratava da dona da beleza mais comentada atualmente em Londres.
“Acho que é tarde demais para eu me transformar em uma dama. A esta altura, seria necessário uma varinha de condão.”
Gabriel precisava de uma herdeira, com muitas
responsabilidades e um castelo para sustentar, ele não tinha alternativa a não
ser se casar com alguém que pudesse garantir a segurança da propriedade, motivo
pelo qual se encontrava noivo de uma princesa Russa que não conhecia. No
entanto, ao saber que seu sobrinho estava vindo ao seu encontro com uma herdeira,
ele se vê cogitando a ideia de seduzi-la, mas acaba por mudar de ideia logo
após conhece-la. Porém, quanto mais ele vai conhecendo Victoria (ou melhor
dizendo, Kate) mais ele acaba por se sentir atraído por essa mulher cujo
conhecimento e papa na língua não são típico de uma dama.
“- Ele
é macho. Notei que nesse caso, às vezes, o cérebro simplesmente não faz parte
da equação.”
Kate sabia que se
deixar entrar no jogo desse príncipe só poderia resultar em sofrimento, no
entanto, cada vez que ele estava próximo a ela parecia que ela não conseguia
resistir ao chamado dele. Quanto mais se conheciam, mais eles se viam dominado
pelo desejo... Com a aproximação do baile e da chegada de Tatiana, eles sabiam
que o tempo estava acabando para eles; mas seriam eles capazes de resistir? Ou
poderiam ceder por uma noite se permitindo viver aquilo que desejavam? Com a
iminência do badalar do relógio uma decisão precisava ser tomada resta saber
qual será ela. Afinal entre o amor e a responsabilidade quem falará mais alto?
Só lendo para saber...
“– Eu consegui – disse Gabriel, num tom casual. – Conheci a mulher perfeita para mim. E agora... conhecerei minha esposa.”
Eloisa James mais uma vez vem demonstrando um talento que atrai
grandes nomes do romance de época com uma obra que apresenta muitos aspectos
que lembram a história de Cinderela, mas que apresenta seu toque na mesma
intensidade. Longe de ser uma das melhores obras que li, com um inicio um pouco
arrastado e enfadonho, essa trama apresenta reviravoltas capazes de acalentar
os corações de forma a arrancar suspiros e transformar opiniões. Quando eu
achava que não haveria aquela emoção presente no primeiro livro publicado pela
autora no Brasil, fui surpreendida com uma mudança de ritmo e um romance que me
fez ficar agarrada as suas páginas torcendo para, que assim como no conto
original, encontrasse o típico “e viveram
felizes para sempre”. Com personagens bem elaborados, ainda que não se
mostrassem cativantes a um primeiro contato, Um Beijo à Meia-Noite se
tornou uma obra completa e apaixonante como só alguém extremamente talentosa é
capaz de fazer.

Kate, ou Katherine
Daltry, é uma jovem de 23 anos que nasceu para ser uma dama, mas que acabou
tendo que se adaptar a uma vida de trabalho duro quando veio a se tornar órfã e
se ver sobre os cuidados de sua madrasta, Mariana Daltry. Tendo perdido tudo
ainda muito jovem, ela nunca pode aprender a se portar como uma verdadeira
dama, visto que seu tempo se reunia a trabalhar incansavelmente para manter a
propriedade em funcionamento enquanto Mariana gastava tudo que possuía em
vestidos e joias que atulhavam todos os cômodos da casa. Adquirindo então uma personalidade
forte, sem medo de falar o que pensa e com uma inteligência notável, ela é
alguém que chama a atenção não por sua beleza extraordinária, mas pela sua
perspicácia e audácia tão incomuns à época. Extremamente generosa, ela não
consegue se ver sendo egoísta, motivo pelo qual acaba por passar anos sobre
constante exploração da madrasta, alimentação escassa e roupas simples. No
entanto, enquanto ela finge ser sua meia-irmã, ela acaba por se descobrir em
meio aquilo que deveria ter sido sua vida, mas que passa longe de ser sua
realidade. Extremamente real, ela é alguém que facilmente atrai o leitor e o
cativa com seu jeito de ser e sua forma de pensar; mesmo sem poder ser
considerada a mais bela, ela é alguém que encanta com sua forma que apesar de
simples é extremamente agradável de olhar e que acaba por despertar em nossos
corações empatia e desejo de vê-la encontrar seu final feliz.
Gabriel Augustus-Frederick
William von Aschenberg of Warl-Marburg-Baalsfeld, por outro lado, é
alguém que vê assumindo grandes responsabilidades quando deixa de seguir para
onde deseja para que possa cuidar de tudo e todos que se encontram vivendo em suas terras.
Precisando de uma esposa, ou melhor, do dinheiro que vem junto com uma
herdeira, ele se vê preso a uma noiva que nem conhece e com a qual não deseja
se casar, mas precisa. No entanto, ele jamais se imaginou se vendo encantado
pela noiva de seu sobrinho, uma moça de personalidade forte que não se submete
a ele por causa do seu título e que não apresenta papas na língua. Apesar de se
mostrar alguém mimado, Gabriel não se mostra odioso em nenhum momento, muito
pelo contrário, ele encanta o leitor com seu jeito sincero de ser e com seu
senso de responsabilidade que o leva a se sacrificar em prol dos outros. Simples,
mas real, ele é aquele personagem que nos compadece com sua vida cheia de
responsabilidades, onde suas escolhas acabam por ser tiradas de si e que nunca
teve alguém para impor limites a suas atitudes, independentemente do que
fizesse. Encantador, ele se parece com o típico príncipe encantado dos contos
de fada, ainda que se mostre longe de agir como tal quando se trata de uma
certa dama (ou não).

Narrado em terceira pessoa, essa
narrativa segue o mesmo padrão encontrado em outras de suas obras, onde permite
uma identificação e aproximação tão grande quanto se fosse escrito em primeira
pessoa. Se mostrando muito bem elaborada, essa obra mostra mais uma vez o
porque de Eloisa James vir angariando cada vez mais fãs com seus livros que são
construídos de forma tão rica que apresenta verdadeiramente a magia existentes
nessas histórias infantis. Com uma originalidade, ainda que utilizando
elementos que facilmente são identificados como vindos de Cinderela, a autora
foi capaz de criar algo que veio para ultrapassar premissas criadas sobre
personagens perfeitos e amores que acabam a meia noite. Carregado de emoções,
essa é uma história que transmite ao leitor aquela aura de sonho e encanto que
só as melhores obras são capazes de produzir.
Com uma capa que remete e dá a
dica acerca de sua história, a Editora Arqueiro soube mais uma vez fazer
um trabalho de publicação impecável e digno de uma obra cheia de magia que só
ela é capaz de fazer. Com uma diagramação simples, mas repleta de detalhes que remetem
ao seu enredo, essa é uma obra que não apresenta erros ortográficos em sua
tradução mostrando uma dedicação em sua revisão que foi muito bem feita de
forma a não perder os trocadilhos e respostas inteligentes criados pela autora.
Bela e em completa harmônio com o segundo volume – e primeiro publicado – da
série, essa é uma obra que demonstra o porquê de cada vez essa editora estar se
tornando uma referencia quando se trata de romances de época.

Um Beijo à Meia-Noite é o
primeiro livro dessa série sobre contos de fada, apesar de no Brasil ter sido o
segundo a ser publicado (que em nada impede
seu entendimento por se tratarem de obras independentes entre si), que vem
chamando atenção com seus enredos apaixonantes e personagens reais e fortes. Se
mostrando uma grande produção, Eloisa, é capaz de mostrar o porquê de ser
merecedora dos elogios vindos dos grandes nomes do gênero que não hesitam em se
aventurar por suas tramas tão encantadoras e belas, ainda que sem exageros. Sabendo
utilizar a dose certa dos elementos dessas histórias, nos deparamos com uma
obra original com constantes referencias, mas que em nenhum momento pode ser
considerada igual a qual foi baseada.
Apresentando um toque de
romantismo e sensualidade, essa história é sobre amores reais e
responsabilidades grandes, é sobre ser forte em meio a dificuldades e ir atrás do
que se deseja, é sobre riquezas e incertas diante de um futuro incerto...
Mesclando fantasia a uma sociedade repleta de regras, Eloisa não teme em ser
ousada ao produzir sua narrativa que segue um ritmo mais lento no inicio, mas
que arrebata o leitor logo depois tornando impossível de ser deixada de lado. Se
mostrando mais uma escolha acertada, esse livro é aquele típico conto de fadas
moderno que não deixa de se enquadrar nos romances de época com seus romance
sempre presente e personagens bem interligados. Lindo, emocionante e divertido,
definitivamente essa é uma obra que deve ser apreciada e guardada nos corações
daqueles que sempre sonharam em ver os felizes para sempre aplicados a pessoas
reais. Intenso, essa é uma obra que se mostrará impossível de ser esquecida e
que chega bem próxima a perfeição, além de ser um ótimo preludio do que está
por vir.
Um beijo